Monday 28 September 2009

Regresso de férias

Foram essencialmente 15 dias muito bem passados na já esvaziada Isla Canela, entregue apenas a pontuais espanhóis de visita aos restaurantes locais e algumas dezenas de ingleses e alemães de mais de 60 anos, instalados nos quatro requintados hotéis\spa da pseudo-ilhota.

Soube-me sempre bem usufruir do investimento que os meus pais fizeram num apartamento deste antigo pântano da costa de Ayamonte, onde a certa altura num passado não tão longínquo como isso, o Ayuntamiento local e a empresa Pryconsa decidiram-se a transformar em estância de turismo e golf. Custou uma ninharia uns oito anos atrás, especialmente quando comparada com o que poderiam ter pago em semelhante caso no "ALLgarve" (e sabiam que isso está mesmo representado numa escultura em letras garafais mal se paga a portagem às portas da Via do Infante?). Hoje vale o dobro (um apartamento vizinho vende-se numa imobiliária local) e novo custa mais do triplo.

Soube-me sempre bem saber que não preciso nunca mais de pagar para ter férias no sul, nem alugar um quarto num hotel com piscina e uma porta para a duna de uma praia que não é mais do que a continuação do areal algarvio, apenas separado pelo Rio Guadiana. E nestes primeiros anos de vida da menina que depressa vai chegar, isso vai ser fundamental.

Nasci português e assim morrerei, mas desculpem-me se, ao passar ali férias, olho para o meu país com desconfiança, tristeza, pena até. A realidade que vivi em Londres durante quase cinco anos não a posso comparar a Portugal, porque não faria sentido algum. Mas estive a passar férias do outro lado do rio. Vejo a pátria lá ao fundo, na varanda do apartamento. Na marina de Ayamonte cheiro a sardinha a ser assada em Castro Marim. Nas ruas pedonais da aldeia oiço a língua de Camões a ser falada a cada esquina, em cada esplanada, em cada alçada.

Em Espanha, tal como em Portugal, o domingo é o dia da família. Mas em Espanha, ao contrário de Portugal, as famílias encontram-se na missa e almoçam juntos, passam o dia juntos. No domingo, em Espanha, as lojas fecham todas. Supermercados inclusivé. A família quer-se junta em casa, a confraternizar, não no shopping da moda a ver montras e "galar" quem passa.

E são pequenas diferenças como esta (para muitos insignificantes) que mostram a coesão de um país que se soube levantar de uma crise profunda, de uma Guerra Civil fracticída, e que é hoje um dos G20 mundiais.

Thursday 3 September 2009

Uma matrícula estrangeira elimina células cerebrais

Quem o diz sou eu, e não nenhum estudo científico como aqueles que costumamos ler vindos de obscuros "Institutos" ou "Universidades" norte-americanas, que nos dizem por exemplo que "os objectos distantes são mais difíceis de ver" (conclusão verdadeira de um estudo da Universidade de Washington).

Ora sendo eu titular de um carro de matrícula estrangeira, e ainda por cima inglesa (conduzo do "lado errado" do carro, pois então), posso testemunhar que há com certeza uma ligação entre conduzirmos em Portugal e a morte de parte do nosso querido cérebro nos outros condutores.

Em primeiro lugar, e mesmo depois de termos abolido a Ditadura em 1974, aderido à União Europeia em 86 e termos todos televisão por cabo com canais estrangeiros à quase tanto tempo, ainda é engraçado ver a cara das pessoas ao ultrapassarem um carro inglês.

Depois, e ainda mais grave que a aparente curiosidade/estranheza em ver um carro com o volante do lado direito do carro, parece que há algo no cérebro que se desliga e, de repente, esquecem-se todas e quaisquer regras de trânsito!

Qual prioridade nas rotundas? Qual sinal de stop? Qual limite de velocidade? "O gajo é inglês e por isso eu aqui faço como me apetece, que ele nem sabe se as regras que aprendeu lá servem para aqui...", parece ser o denominador comum para a grande maioria dos condutores das estradas/ruas portuguesas ao ver uma matrícula que não é igual à deles.

Eu, claro, ando muito preocupado. Se calhar vou ter de meter algures o cachecol do Benfica, um cãozinho que só diz que sim no vidro de trás e uma Nossa Senhora de Fátima no tablier da frente, para mostrar que estou perfeitamente adaptado à realidade portuguesa, apesar do meu carro ser estrangeiro. Se calhar depois disso eles param de me apitar mesmo quando sou eu que estou a cumprir as regras de trânsito e eles não!

PS - Sabiam que cada país da União Europeia tem as suas exigências em matéria do que é necessário trazer no porta-bagagens para usar em caso de acidente? França exige que os coletes reflectores estejam já dentro do carro (no porta-luvas ou até vestidos!), para quando se mete o pé fora da viatura já os trazer postos. Exige também um triângulo, um kit de luzes de substituição, um estojo de primeiros-socorros e um extintor! E se o carro não tem a letrazinha correspondente ao país de onde é, toca a comprar um íman e colocar atrás, que o francês não tem de estar a puxar pela cabecinha e pensar que, se o condutor conduz na direita do carro, então o carro deve ser inglês...

Já Espanha dispensa o extintor e o kit das luzes, mas exige dois triângulos. Para quê? para quem vem ilegalmente na contramão saber que eu estou empanado? Não me parece que nesse caso o meu maior problema seja a falta do segundo triângulo à frente do carro...